Obra procura reconstruir a história dos caboclos na região do Goio-En, os conflitos históricos por problemas de terra, as experiências de luta, resistência, organização, de trabalho em mutirões, as práticas de religiosidade, a relação homem-natureza e os processos de desmatamento com o avanço da colonização. Veja, a seguir, uma entrevista com o autor acerca da obra. Como surgiu a ideia do livro “Memória, História e Cultura?” Em primeiro lugar, o livro é resultado da tese de doutoramento. Eu acompanhei e coordenei um grupo de pesquisa sobre movimentos sociais e o foco da pesquisa era a influência dos monges do Contestado na região Sul do Brasil. Pesquisamos algumas regiões no Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, entre as quais, Linha Cachoeira e Almeida – Chapecó. Foi daí que nasceu a proposta de pesquisa para a tese de doutorado, realizado na PUC/SP. É evidente que a pesquisa ganhou novos enfoques durante a realização do doutorado. De um modo geral, do que trata o livro? O título dá o destaque central. É um esforço para reconstruir a história dos caboclos na região do Goio-En, os conflitos históricos por problemas de terra, as experiências de luta, resistência, organização, de trabalho em mutirões, as práticas de religiosidade, a relação homem-natureza, os processos de desmatamento com o avanço da colonização etc. É a tentativa de trabalhar a história e a cultura pela mediação da memória. Você já produziu outros trabalhos como esse? Quais? Desde a realização do mestrado eu sempre procurei investigar experiências e processos de grupos sociais marginalizados pelas culturas dominantes. No mestrado pesquisei a experiência do acampamento Natalino (1980-1983), em Ronda Alta/RS. Daí resultou o livro: “Acampamento Natalino: história da luta pela reforma agrária”. Passo Fundo: Ediupf, 1997. Pesquisamos também a história e a cultura Kaingang e publicamos um livro por mim organizado: “História e cultural Kaingang no sul do Brasil”. Passo Fundo: Gráfica e Editora da UPF, 1994. Depois foram publicados artigos em periódicos e capítulos de livros. Como foi o contato com os entrevistados? Houve algum receio por parte deles? Para quem entrevista é sempre uma experiência nova. As situações e as pessoas são diferentes. Daí o desafio de procurar estabelecer uma relação de confiança antes de buscar qualquer tipo de informação e de realizar as entrevistas. Na medida em que a confiança se estabeleceu não houve nenhum problema. A respeito disso, discuto alguns aspectos na introdução do livro. Na sua opinião, quais as principais mudanças trazidas com a expansão da colonização? Antes da colonização propriamente dita, ou para a região da pesquisa, as migrações que não fazem parte de processos sistemáticos de colonização, havia uma relação muito mais próxima entre Homem-natureza. A colonização introduz novas racionalidades de cunho instrumental que transforma o espaço em objeto de venda ou de exploração. Essa ruptura interfere no centro da cultura cabocla. A colonização e a cultura que junto se instalam na região vão, progressivamente, desqualificando a cultura cabocla. A introdução de novas técnicas de produção, as madeireiras, etc. Transformam profundamente o ambiente e, por conseguinte, a cultura, ou seja, os modos de vida. Conjugue para nós os conceitos presentes no título do seu livro: “Memória, História e Cultura” A questão central foi investigar os modos de vida dos caboclos. Para tanto, a questão colocada foi de como realizar esse trabalho visto que os próprios caboclos não escreveram suas histórias, vivencias etc. O recurso possível foi a produção de fontes orais através das entrevistas. O passado passou a ser reconstituído a partir da memória. Daí o título: Memória, História e Cultura. Pela memória, busca-se trabalhar a história e os modos de vida (cultura) na perspectiva do dominante, do residual e do emergente. |