Postado em 15 de Fevereiro de 2017 às 16h10

“Cinema, infância e imaginação: tecendo diálogos”

Voz do Autor (36)

1) Primeiramente, qual unidade foi buscada no momento da seleção de textos para compor o livro “Cinema, infância e imaginação”? O que estes escritos têm em comum, para além do tema?

 

Nossa primeira ação ao organizar “Cinema, infância e imaginação: tecendo diálogos” foi agrupar textos escritos ao longo de dez anos de estudos no Grupo de Pesquisa em Educação Imaginativa inserido no Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação Estética na Universidade do Extremo Sul Catarinense (GPEI/GEDEST/UNESC). Essas escritas, ao refletirem sobre crianças e infâncias nos filmes e animações analisados, têm a intenção de dialogar com professores, pais, cuidadores de crianças, enfim – educadores – a respeito da arte de ver cinema.

E esta requer a educação do olhar. Inicialmente, deixarmo-nos levar pelo espetáculo visual e sonoro que mostra a protagonização das crianças nos diferenciados meios culturais, e assim, vivenciarmos uma experiência estética. Na sequência ou simultaneamente foi refletir a organização sociocultural das sociedades, os comportamentos e as atitudes individuais onde se passa o enredo da película, possibilitando-nos perceber as diferentes infâncias de diversos lugares do mundo.

Nessa análise processa-se educação – a formação humana – para a lida com crianças e com o próprio sujeito espectador, seja ele criança, seja ele adulto. Nesse ínterim também se verificou se a película é sobre crianças, para crianças ou produzida por crianças. Portanto, nossas escritas têm em comum a educação da pessoa – crianças e adultos – a formação humana que busca o auxílio da sétima arte – o cinema.

 

2) De que maneiras o cinema pode ser utilizado como ferramenta no processo de educação? Existem propósitos além da sensibilização artística do aluno?

 

A arte, em suas diferentes manifestações, é, sobretudo, educativa. Entendemos que inicialmente o filme ou a animação seja apreciado pelos próprios componentes artísticos que o constitui, como, por exemplo, imagem, trama dos personagens, sonoplastia, cenografia. Possibilitar, dessa forma, que as crianças sentem-se diante da tela e fruam informalmente partindo de seu próprio repertório. Nesse sentido, a sensibilização artística/estética/poética favorece descobertas, indagações e conhecimento de diferentes cenários e culturas. Esse contato, por sua vez, contribuiu para ampliar a visão das crianças e, por seu turno do espectador adulto, sobre diferentes formas das crianças protagonizarem a vida e viverem suas diferenciadas infâncias.

O cinema, enquanto ferramenta que potencializa o processo educativo, é aqui apresentado para ser também utilizado formalmente nas instituições de ensino.

Nesse sentido, um filme ou um anime pode ser abordado em debates, ampliando a visão dos mais diferenciados conteúdos trabalhados com as crianças, em especial, o próprio cinema.

 

3) Que tipos de ações vocês acreditam que são possíveis de realizar para que, desde cedo, as crianças valorizem as expressões artísticas?

 

A criança tem o direito de conhecer o cinema. É preciso promover o encontro da criança com o cinema, levá-la ao cinema. A partir da fruição ao se propiciar experiências estéticas, as quais podem ser prazerosas ou trazer à tona emoções doloridas, agenciar o envolvimento da criança com outras expressões artísticas.

Vamos ao cinema com crianças para juntos alegrarmo-nos ou entristecermo-nos com a trama representada na tela. A partir daí, outras formas de arte podem ser empregadas para a escuta das crianças, como, por exemplo, a dança, a pintura, a escultura, o teatro utilizados para que os pequenos (re)criem suas próprias expressões artísticas na apreciação da película assistida. Ou, ainda, junto com crianças, podemos nutri-las para que produzam um filme, animação ou outro recurso audiovisual. Finalizamos com a compreensão de que é fundamental oferecer experiências estéticas significativas às pessoas. Assim, é importante que crianças e adultos possam frequentar exposições; acessem livros de arte de qualidade; tenham a oportunidade de trocar ideias com inúmeras pessoas; experimentem variadas linguagens artísticas, como música, dança, literatura, teatro, cinema, entre outras. Destarte, criar uma cultura de cinema, entre outras expressões, é um desafio de longo prazo. Afinal, a formação cultural não é dada, mas conquistada lentamente e, sobretudo, permanentemente, uma vez que só é possível gostarmos daquilo que conhecemos.

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