Esta semana convidamos Rodrigo Duarte para falarmos sobre a sua obra “Dizer o que não se deixa dizer: para uma filosofia da expressão”. Veja, a seguir, a entrevista com o autor acerca da obra.
Especialmente, estética/filosofia da arte, filosofia social, filosofia da cultura
O meu interesse pelo tema da expressão, do ponto de vista da filosofia, já vinha da segunda metade da década de 1990 e, com o passar dos anos eu dispunha de uma coleção de ensaios sobre esse tema, abordando-o de diferentes perspectivas e com enfoques diversos - a maioria deles já publicados em revistas acadêmicas ou em coletâneas. Desse modo, o livro surgiu a partir de uma retomada, revisão e adaptação desse material, com o objetivo de oferecer ao leitor uma abordagem prévia do que chamo “filosofia da expressão”.
Em certo sentido, sim, pois se se considera que o ponto de vista predominante no livro é influenciado pela Teoria Crítica da Sociedade, pode-se identifica-lo facilmente com o restante de minha produção intelectual, que versa sobre autores dessa orientação, principalmente Theodor Adorno.
Uma das ideias norteadoras do livro é a contraposição entre comunicação e expressão, sendo que a primeira tem uma conexão direta com a cultura de massas e a segunda diz respeito mais às artes e a um tipo de filosofia que critica de modo contundente a manipulação das pessoas por aquilo que Adorno e Horkheimer chamaram de indústria cultural. Essa, sob o pretexto de oferecer entretenimento de fácil acesso às fatias mais amplas da população, tem sido responsável por uma erosão da democracia, não apenas no Brasil, mas em todo mundo. Nesse sentido, me parece ser uma contribuição válida chamar a atenção do maior número possível de pessoas para essa manipulação, de modo a, na pior das hipóteses, mantê-la sob o controle das instituições que preservam o Estado Democrático de Direito.
A inspiração para esse título veio de uma passagem da Dialética negativa, de Theodor Adorno, segundo a qual, “a despeito de Wittgenstein, seria preciso dizer o que não pode ser dito”, o que contrapõe à famosa proposição 7 do Tractatus Logico-Philosophicus a ideia de que uma das principais tarefas da filosofia seria transgredir interditos de tipo lógico, como o proposto pelo filósofo austríaco, em benefício de um pensamento dialético, capaz de criticar e, tanto quanto possível, reverter os momentos mais obscurantistas do que Adorno chamou de “mundo administrado”.
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