Quais foram seus objetivos ao escrever o livro, e como você espera que os leitores captem a essência dele? Meu objetivo foi reunir trabalhos meus produzidos no extenso período que vai de 2001 a 2013, na suposição de que assinalam uma trajetória de estudo e reflexão, e que são de algum modo coerentes uns com os outros e intercomplementares. Como diz o título, são variações, porém sobre o mesmo tema. Quanto à recepção do livro, não sei, e só posso esperar que os leitores não vejam nos ensaios que o autor está variando, no sentido de “delirando”, “desvairando”, “endoidecendo”. Coisa aliás bem frequente hoje, pelo menos na área das humanidades, na qual não se pode dizer que a razão, no momento atual, goze de grande prestígio. Você já produziu outros trabalhos com essa temática ou afins? Sim, naturalmente. Devo dizer, por sinal, que quase nada tenho publicado fora dessa temática, minha especialidade. Assim de cabeça, só me lembro de dois pequenos artigos amadores sobre ornitologia, e de uma narrativa sobre aspectos históricos da cidade do Rio de Janeiro. Bem afinado com o Variações, pois com o mesmo propósito de reunir trabalhos esparsos (dessa vez produzidos sobretudo de 2014 a 2016), citaria o volume E a literatura, hoje?, publicado pela Argos este ano. Qual a contribuição que o livro traz para as pessoas e para a complexa sociedade em que vivemos? Acho que, para os estudiosos da área – professores especialistas ou estudantes em formação –, o livro pode ser representativo do estado da arte no campo dos estudos literários. Para não especialistas, porém interessados em questões literárias e culturais da atualidade, acredito que o livro é legível, pois, embora eu não deixe de usar os conceitos da minha área de trabalho acadêmico, procuro sempre fazer da clareza um fundamento inegociável de tudo que escrevo. Partindo para o processo criativo do livro, quais metodologias foram utilizadas para elaboração da obra? Isso não dá para dizer numa resposta pontual. Essa coisa de metodologia, por estranho que possa parecer, é uma espécie de ponto cego no trabalho intelectual. Da minha parte, escrevi um livro sobre o assunto, que se chama Um pouco de método. Os textos possuem um seguimento, cada qual conta uma história, nenhum está ali sem haver um motivo. Queríamos entender qual foi o processo de seleção deles e se algum tem algo de especial para você. O critério de seleção foi contemplar textos que, escritos há algum tempo, ainda resistissem à minha autocrítica, isto é, textos em que eu ainda reconhecesse qualidade e pertinência. E que coubessem claramente nas partes em que dividi o livro – Práticas analíticas, Panoramas historiográficos e Perspectivas teóricas –, permitindo, ao mesmo tempo, um preenchimento equilibrado de cada uma delas. Quanto a indicar um ensaio que tenha “algo de especial” para mim, confesso que acabei de dar uma olhada no sumário do livro e não me decidi. Mas, se me intimarem a apontar algum, eu ficaria entre o ensaio “Os cursos de letras no Brasil” e “O estudo do passado hoje”. O primeiro porque o escrevi a fim de me situar melhor na história da minha profissão; o segundo porque fala da minha formação, num tom de depoimento autobiográfico. Quais são os problemas em aberto nesse campo e quais são os caminhos para o progresso? Problemas não faltam, até porque as humanidades constituem um campo essencialmente problemático, e não no sentido de que trata de problemas que vai resolvendo, mas, muito ao contrário, porque sua missão é justamente criar problemas, isto é, encontrar coisas nas quais valha a pena refletir, na sociedade, na cultura, na política, na natureza. E progresso, nas humanidades, não há; pois esse é o campo da crítica crônica, isto é, o campo que reconhece todos os tempos – o passado, o presente e o futuro – como tempos de crise, ou, dizendo de outro modo, tempos críticos. |